Se Deus escreve certo por linhas tortas.
Se Deus fez os abismos para que compreendêssemos as montanhas. Também é verdade que nas palavras de Carlos Drummond, poeta mineiro: "De tudo fica um pouco."
(...) Pois de tudo fica um pouco.
Fica um pouco de teu queixo
no queixo de tua filha.
De teu áspero silêncio um pouco ficou,
um pouco nos muros zangados,
nas folhas, mudas, que sobem.
Ficou um pouco de tudo
no pires de porcelana,
dragão partido, flor branca,
ficou um pouco
de ruga na vossa testa,
retrato.
(...) E de tudo fica um pouco.
Oh abre os vidros de loção
e abafa
o insuportável mau cheiro da memória.
(Resíduo)
(Resíduo)
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