Tempos de... ESPERANÇA ou GLÓRIA?!
Por Alessandra Leles Rocha
Já no século XVII, Isaac Newton afirmava ao mundo: “A toda ação há
sempre uma reação oposta e de igual intensidade: ou as ações mútuas de dois
corpos um sobre o outro são sempre iguais e dirigidas em sentidos opostos”. Mas,
por que a humanidade não consegue entender, hein?
Não, a pergunta não é absurda. Basta abrir os olhos de manhã e
passá-los, até de forma displicente, pela mídia impressa e digital para
perceber que os dias contemporâneos nos cobram caro as ações, as omissões, as
imprevidências marcadas nas páginas de um breve ou longínquo passado. A vida é
assim, mais dia menos dia e a tal ‘reação’ nos bate à porta.
Aos que optam pela total alienação em tempos de crise: cuidado! A
tentativa de permanecer ‘em cima do muro’, ou ‘en passant’, é mera ilusão. Não
se posicionar já é um posicionamento claro. Se não estamos de um lado estamos
inevitavelmente do outro, seja para o Bem ou para o Mal.
De repente, dois mil e quinze se despede no auge da instabilidade, tão
bem exemplificada pelo sociólogo polonês, Zygmunt Bauman, que nos apresenta a
pós-modernidade através da imagem de alguém que tenta atravessar um lago
gelado, cuja superfície está coberta por uma fina camada de gelo; ou a pessoa
atravessa correndo, sem olhar para trás, ou enfrenta o risco de afundar nas
águas “cortantes”.
Por mais que a imprevisibilidade seja uma marca natural da existência
humana, não raras às vezes somos traídos pela tentação de uma zona de conforto,
capaz de nos dar certo alento ao estresse de uma vigilância sem fim. O cansaço
do cotidiano nos faz parar sobre o gelo e o óbvio inevitável acontece...
A força brutal da realidade é sempre esmagadora. Veja quantos são os
estudos a demonstrar o quanto o corpo se desgasta diante da dinâmica social nas
médias e grandes cidades, por exemplo. As pessoas tornam-se mais doentes, mais
envelhecidas, pela rudeza dos confrontos visíveis e invisíveis que permeiam
esses ambientes. O barulho que grita constante e externamente passa a ecoar
internamente no inconsciente individual e coletivo.
Mas a metáfora do lago gelado nos faz esquecer quão grande ele é, da
incomensurável dimensão da vida, e no final das contas, apesar do medo de
afundar nas suas águas friamente pontiagudas, contrariamos a lógica e nos
permitimos enredar pela pressa desmedida, imprevidente, que não equilibra a
energia suficiente para não sucumbirmos ao cansaço físico, mental, social dessa
longa travessia.
Ninguém cuida de você melhor do que você. Ninguém sabe o que é melhor
para você do que você. Hora, então, de uma nova ação, de ir contra ao
afundar-se sem impor resistência. Buscar na reação o aprendizado da
sobrevivência. Buscar na reação a razão de consertar os erros, os cálculos, as
projeções equivocadas ou desajustadas. Devolver o significado e a
importância à própria existência, descobrindo que a si mesmo pertence essa significação
e não ao mundo.
Em certa ocasião perguntaram ao Dalai Lama, o
líder oficial do governo tibetano em exílio, o que mais o surpreendia na
humanidade e ele respondeu: “Os homens... Porque perdem a saúde para
juntar dinheiro, depois perdem dinheiro para recuperar a saúde. E por pensarem
ansiosamente no futuro, esquecem-se do presente de tal forma que acabam por não
viver nem o presente nem o futuro. E vivem como se nunca fossem morrer... e
morrem como se nunca tivessem vivido”.
Não é a coragem que
parece faltar ao ser humano; mas, a sua esperança. Haja vista a sucessão de
atos nomeados pela estupidez corajosa entre nós. Não nos esqueçamos: “A toda
ação há sempre uma reação oposta e de igual intensidade...”; apesar do caos
contemporâneo disseminado pelo mundo, quem sabe não se faça luz? Quem sabe o
gelo não nos acorde do torpor? Quem sabe...
Postado em 20/11/2015
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