De volta à realidade é hora de seguir em frente e pensar no futuro dessa nação. Cientes de que projetar felicidade nas costas alheias pode ser fatal e ineficaz, cabem a cada cidadão brasileiro tratar de lutar com unhas e dentes pelo seu próprio quinhão de alegria e contentamento; bem como, de realizar pelas próprias mãos a transformação de sonhos e projetos.
De fato, é muito bom quando algum brasileiro na execução de seu ofício representa bem o país dentro ou fora de suas fronteiras. Eles ou elas estão lá, representando o país, realizando seu trabalho, certamente lutando com muitas dificuldades para chegar até esse ponto, e deixarão nas páginas da história o registro desse legado. Sentimos satisfação, orgulho, alegria por ver que, apesar de tantos pesares, desse solo continua a brotar uma infinidade de talentos capazes de encher os olhos e alma de emoção.
Mas, é preciso entender de uma vez por todas que a realização pessoal desses indivíduos em questão não altera direta ou indiretamente a nossa própria realidade, continuamos a ser os mesmos, a “matar milhões de leões” por dia para dar conta das obrigações prestes a nos soterrar, alternando sucessos e fracassos no dia a dia. Títulos, conquistas, premiações, computadas aos quadros de memória do país não são capazes de mudar os rumos da nação, de milhões de pessoas que movem as engrenagens do desenvolvimento e do progresso dessa terra.
Debruçamos diante deles como Narciso fez diante do lago, admirados com tanta beleza e perfeição! Mas nosso espelho é bem outro: distantes dos salários suntuosos, das mordomias em viagens e hospedagens nos melhores hotéis, das novidades médicas de última geração para tratar as lesões, dos contratos publicitários que rendem dinheiro extra no fim do mês, enfim... tudo à disposição para ainda fazerem o que mais gostam. Enquanto os pobres mortais enfrentam a exaustão da labuta, o transporte lotado, as filas no atendimento público de saúde, a jornada tripla para saldar os compromissos no fim do mês, a marmita fria na hora do almoço, a falta de professores nas salas de aula – para aqueles que sonham em melhorar de vida -, a insegurança nos centros urbanos, o stress... enfim, tudo o que a vida é capaz de lhes oferecer em termos de sobrevivência.
No mesmo mundo dois universos que se defrontam e não se percebem pertencentes à mesma semente: o Brasil. Aos ídolos que falharam na sua missão tudo permanece como antes; talvez, alguns dias sob o olhar acusador e sarcástico da mídia, nada que o tempo não supere. Aos fãs também a normalidade de sempre, com o gosto momentâneo do amargo da decepção – se eles que tinham tudo e não conseguiram o que nos restará? Na esfera do mais ou do menos, do maior ou do menor, acordaremos amanhã todos brasileiros, cidadãos, trabalhadores, cumpridores das obrigações habituais. A catarse da alma continuará a ser nossa meta para dar alívio e sentido em continuar a jornada, mas buscará em outros elementos da vida motivo para acontecer. Permaneceremos fiéis aos encantadores das bolas nos pés; mas, agora, conseguindo enxergar a realidade que se esconde atrás da rede branca, da euforia do gol, da emoção do hino; finalmente fomos despertos ao som das vuvuzelas.
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Outra notícia relata o fato de que: - Um homem de 28 anos se suicidou na Tailândia porque seu pai lhe repreendeu por passar muito tempo acompanhando a Copa do Mundo da África do Sul em vez de ajudar a família nos campos de arroz, informou nesta sexta-feira a imprensa local".
Entendo que uma pessoa torça por uma seleção na copa, com direito a vuvuzela e nervosismo total. Não entendo como algumas pessoas fazem a conexão entre uma partida de futebol e o patriotismo. Também, passo longe da ideia de que o futebol é o ópio do povo e/ou de que os torcedores esquecem dos problemas de suas vidas ao assistir futebol. O problema não é esse. O problema é outro. Considero o associar futebol ao patriotismo, algo tosco e sem sentido.
Calma!!!!!! O Miniaurélio fornece o seguinte significado para a palavra pa.tri:o.tis.mo:
Amor a pátria; consciência dos deveres cívicos e apego e/ou admiração pelas coisas do seu país.