TRANSCRITO DO PORTAL AQUI BRASIL (http://www.mhariolincoln.com/)
.... "Ser umbandista ou mesmo afro-religioso num País onde cerca de 70% da população declara-se católica, apesar de sabermos que para esse caso os números maquiam as práticas sincréticas, é sinônimo de preconceito e discriminação, mesmo por pessoas mais esclarecidas ou espiritualistas, ditos progressistas, a exemplo dos cabalistas e dos kardecista, ainda veem a umbanda com maus olhos, seja pela visão enviesada no próprio preconceito que se tem por tudo aquilo que perpassa a africanidade, no caso, o culto aos orixás e pretos velhos, muito embora a umbanda seja uma religião universalista e genuinamente brasileira, dialogando com entidades de variadas linhas espirituais, seja de origem africana, xamânica, esotérica, dentre outras, o mesmo prejulgamento se dá devido ao desconhecimento sobre a ritualística umbandista.
Nesse sentido assumir-se umbandista, independente de classe social, terá que enfrentar todo esse tipo de preconceito e distorções. No caso de pertencer a um meio social elitizado e conservador, onde as aparências são pautadas como ordem do dia e, ser seguidor dessas religiões é ser visto com asco pelos ‘seus’, o processo de se assumir umbandista ou ‘sair do armário’, ainda sim, será um ato de conflito, de persistência e de luta pelo respeito de sua opção religiosa. Caso contrário, viverá a margem, a espreita, vivenciando o ‘santo’ entre quatro paredes de seu templo e no mundo aqui fora fingindo ser qualquer coisa menos umbandista. Daí, fazemos o seguinte questionamento: Não assumir o ‘santo’, escondê-lo dos seus, omiti-lo por medo do enfretamento, não seria tão ‘doloroso’ para o ‘santo’ quanto se seus pais naturais ou de criação tivessem vergonha de lhe reconhecer como filho diante sua rede familiar e social?!
É claro que devemos levar em consideração o tempo de cada um em assumir suas identidades, sejam elas sexuais, profissionais, políticas, culturais ou religiosas. “Ninguém é igual a ninguém”, a importância da alteridade encontra-se justamente nesse aspecto, no respeito pelas diferenças e pela diversidade.
Não podemos obrigar ninguém, portanto, assim penso, a se assumir seja lá o que for, podemos sim questionar, inquirir sobre se é isso o que realmente se quer... Não obstante, o tempo do ‘santo’ é bem diferente do tempo da matéria, afinal, a espiritualidade é um ‘casamento’ entre o ‘santo’ e o ser em desenvolvimento. Às vezes, assumir a covardia pode ser também um ato de coragem. Provocações à parte! Com isso, está aberto o debate.
Saravá!"
_______________
Autora do artigo:
Alanna Souto
Mestre em História Social da Amazônia-UFPA e Umbandista da Tenda de Umbanda Luz do Oriente. (Belém-Pa. Link do twitter: @Alanna_souto)